Odylla era a quarta filha de Attilio, última de seu primeiro casamento com Diva Bordin. Foi já na fase próspera do empresário, quando ele ainda era um ativo comerciante no interior do oeste catarinense que nasceu, em 9 de abril de 1929, em Bom Retiro do Cruzeiro – uma vila do Vale do rio do Peixe, que mais tarde se chamaria Luzerna -, a pequena Odylla, marcada pela mansidão de seus olhos verdes e pela doçura de sua personalidade. Na juventude, ela pode ver e participar intimamente da movimentação e dos bastidores da fundação da Sadia em 1944.
Odylla teve de aprender a conviver com a perda de entes queridos. Três meses antes de completar dois anos ela perdeu a mãe Diva. Seu pai viria a se casar novamente três anos depois com Carlota Ringwalt, a quem Odylla chamava carinhosamente de Lot e a tinha como sua segunda mãe. Mas aos 16 anos a jovem viu Lot morrer em 1945. Contudo, uma dor de perda mais cruciante estava reservada para Odylla em 1986, quando morreu seu jovem filho Lauro, segundo de uma prole de cinco.
Odylla passou em Concórdia, grande parte de sua vida, desde a juventude até vários anos após o casamento. Estudou em regime de internato no então afamado Colégio Nossa Senhora de Lourdes, conhecido como Colégio Cajuru, em Curitiba, onde completou o Curso Clássico após o ginásio - correspondente ao colegial segundo grau de hoje -, posto que pretendia seguir para a universidade. Festeira, adorava bailes, festas típicas da colônia italiana, tertúlias musicais e festejos carnavalescos, nos quais por vezes foi a Rainha do Carnaval. Não pensava em casamento, embora tivesse pelo menos dois pretendentes oficiais e declarados em Concórdia, filhos de amigos de seu pai, então futuro prefeito da cidade.
Foi em 1951 que a vida da jovem Odylla tomaria o rumo que nem ela imaginara anteriormente. Naquele ano chegou em Concórdia um jovem médico recém-formado para tentar a vida profissional na região. Levado pelas mãos de um colega médico local, o jovem foi se apresentar ao então candidato a prefeito, Attilio Fontana. Antes de entrar, o colega sussurrou ao seu ouvido: “Cuidado! Aqui nesta casa existem dois perigos!” O forasteiro não entendeu nada na hora e só viria a compreender meses depois que os “dois perigos” eram as duas lindas jovens solteiras, filhas de Attilio, Odylla e Therezinha.
E foi naquele mesmo início de 1951, no baile do Clube Aliança – depois denominado Clube Vinte e Nove de Julho – de Concórdia que o jovem médico, Zóe Silviera d´Ávila, foi formalmente apresentado à quarta filha de Attilio Fontana. Ao voltar do baile, já de madrugada, no silêncio de seu quarto, Odylla, não conseguindo segurar o rápido pulsar de seu coração, falou para si mesma: “Hoje conheci um rapaz com o qual eu seria capaz de me casar”.
O namoro não tardou a ter início e enquanto Zoé clinicava em Itupimirim e cidades daquela região do oeste catarinense, o casal se relacionava por troca de cartas, telefonemas e algumas raras visitas. Em 25 de dezembro de 1951 ficaram noivos e Odylla também teve de aprender a conviver com bailes cancelados, festas adiadas, encontros desmarcados e comemorações esvaziadas Enquanto o companheiro exerceu a Medicina, mesmo depois de casados, os chamados de urgência fora de hora eram prioridade para ele em qualquer ocasião.

Odylla e Zoé casaram-se em abril de 1953, em Concórdia, com uma festa principesca para a época, marcada pelo primeiro serviço de bufê da Casa Fasano fora de São Paulo. Attilio queria fazer uma comemoração inesquecível no casamento da filha e graças a Omar Fontana, irmão de Odylla, na época capitaneando a então Sadia Transportes Aéreos, o acontecimento foi possível. Caminhões da então Sadia Concórdia levaram carnes, antepastos e alimentos, enquanto os aviões transportaram os apetrechos de cozinha e de bufê, cozinheiros, tendas e garçons. Os nubentes casaram-se sob as bênçãos do ent ão bispo de Lages, Dom Daniel Hostin. E por mais de seis décadas, a partir daquela data, Zoé cravou uma frase decisiva e definitiva em sua existência:” Odylla é um anjo em minha vida”.
Em 1962, incentivado pelos insistentes convites de Attilio Fontana para abraçar a vida empresarial, Zoé deixou a Medicina e tornou-se Diretor de Higiene e Produção na Sadia. O casal continuou em Concórdia e lá, no ambiente tranquilo e bucólico do interior catarinense, acompanhou com carinho e dedicação o nascimento e a infância de seus cinco filhos.
Em 1973, a família mudou-se para São Paulo, uma vez que Zoé assumiria importantes desafios no já enorme grupo empresarial que se tornara a Sadia, cuidando de toda sua produção e protocolos de qualidade em todas as fábricas da época. Odylla então já havia aprendido a não ter mais que interromper refeições familiares, nem adiar festas ou cancelar comemorações. A partir de então as refeições eram feitas com os sete presentes. E o ritual não acabou, pois já adultos e casados, todas as quartas-feiras era o dia reservado para o almoço dos filhos na casa da mãe. E o ambiente de diálogo entre pais e filhos permitiu a transmissão de valores que sempre foram defendidos por Odylla: amor, perdão, união, respeito a outras culturas e às pessoas que pensam e vivem de jeito diferente. Ao vir para São Paulo com os filhos na década de 1970, após a vida bucólica na campestre Concórdia, a fim de que os filhos não tivessem uma experiência traumática de cair de repente na maior metrópole brasileira, Odylla ensinou os filhos mais novos a guardar caroços de frutas para plantar nos terrenos gramados da USP nos fins de semana. Era o jeito que ela encontrou para manter os menores perto da natureza, numa vida próxima com aquela que tinham no interior.
Odylla Fontana d´Ávila deixa o marido, Zoé Silveira d´Ávila, os filhos, Eduardo, Yara, Denise e Daniele, nora, genros, oito netos e dois bisnetos.
O corpo de dona Odylla foi velado e sepultado em São Paulo aonde vivia.