Essa realidade, porém, só uma minoria vive. Além dessa pequena nata de cariocas, somente os turistas vivem esse sonho na Cidade Maravilhosa. O verdadeiro Rio de Janeiro é mais pobre, mais perigoso e mais desafiador do que você pode imaginar. Um dia no Rio de Janeiro, como um trabalhador comum da Zona Oeste, pode ser mais cansativo e inusitado do que você imagina.
Neste cenário, não há Cristo na janela, tampouco tempo para sentar e tomar um café da manhã. O dia aqui começa sem a presença da luz do sol. Às 4h da manhã, muitos trabalhadores já estão de pé, tomando banho e escovando os dentes para começar mais um dia. Afinal, nunca se sabe quantas horas ele irá demorar para chegar no seu serviço, pode ser uma hora ou até mais de três. Na dúvida, melhor sair de casa o quanto antes para não chegar atrasado.
No caminho, correria e agitação, o sol está nascendo e já tem mais carros e pessoas na rua do que em qualquer horário agitado de Concórdia. Melhor correr para não perder o trem, nunca se sabe quão cheio estará o próximo, além do mais, tem mais um ônibus para pegar depois. Após de mais de uma hora em pé no primeiro vagão, chegou o momento de esperar o ônibus e rezar para não enfrentar nenhum engarrafamento. Porém, a sorte não anda com o carioca, após algum tempo no trânsito, enfim chega ao trabalho, com somente uns minutinhos faltando para iniciar o expediente.
O almoço é rápido, muitos clientes para atender e trabalho para fazer, é melhor terminar o quanto antes para não precisar ficar depois do horário, o caminho para casa é longo. Terminando o trabalho, hora do rush, empurra-empurra no transporte público, ir em pé é o menor dos problemas, o cenário mais desejado é não ir grudado com as pessoas, como em uma lata de sardinha. Além do mais, é verão, e o calor não dá trégua.
No meio disso tudo, olhos atentos, pode ter alguém te observando e esperando uma bobeira para furtar seu smartphone, que você ainda está pagando parcelado. Por fim, depois de muito calor, empurrões e correria, você chega em casa às 20h30. Que ótimo, ainda dá tempo de jantar e assistir a um episódio da sua série favorita, além de ver seu filho caçula ainda acordado. Mas no meio do episódio, você cai no sono, amanhã começa tudo de novo.
O que você acabou de ler é o cotidiano da maioria dos cariocas, em um dia comum, há dias melhores e há dias piores. Eu, como carioca, sai do Rio de Janeiro há sete anos, em busca de outra realidade de vida. Voltando para minha terra Natal nesse período de festas, parte meu coração ver a cidade que eu nasci piorando a cada ano, definitivamente largada às traças.
Cracolândia, crimes diários, caos, obras paradas, trânsito, desrespeito e desordem. Faltam adjetivos para caracterizar essa cidade que já foi a capital do Império Português. Motos sem placas, motociclistas sem capacete, estações com os muros quebrados, tráfico de drogas a luz do dia e a vista de quem quiser. Impunidade: o Rio de Janeiro representa a falência dos Três Poderes e o domínio de forças paralelas.
Neste sábado, dia 7, às 19h, no podcast Microfone Aberto da Rádio Rural, falaremos sobre as impressões de um catarinense no cotidiano carioca. Rafael Biesek será o entrevistado. Além de falar da trajetória de sua vida, o podcaster de Lindóia do Sul contará sobre sua experiência durante as férias no Rio de Janeiro.

* Foto de abertura: Rosany Fernandes