Um jogo que não é somente um jogo. Quatro meses depois do acidente aéreo na Colômbia, Chapecoense e Atlético Nacional entram em campo para disputar uma partida oficial a partir das 19h15min desta terça-feira na Arena Condá. O duelo é o primeiro dos dois que vão decidir o título da Recopa Sul-Americana. Mas tem muito mais fora de campo. É o jogo de agradecimento ao povo colombiano pela solidariedade manifestada após o acidente, quando lotaram o estádio Atanasio Girardot, em Medellín, e fizeram até música pela Chapecoense.
Ter uma camisa do Atlético Nacional em Chapecó virou objeto de desejo, e não será de se espantar ver o manto da equipe colombiana dividindo as arquibancadas com quem vai trajar a camisa do Verdão.
Chapecó e o Oeste catarinense torceram para o Atlético Nacional no Mundial Interclubes. E passaram a admirar a equipe que abriu mão de um título internacional, quando a Chapecoense não tinha nem time. Graças a este gesto, hoje acontece o jogo em Chapecó, entre o campeão da Copa Sul-Americana e o campeão da Libertadores.
Para o técnico Vagner Mancini, a partida contra o Atlético Nacional se enche de significado, que ultrapassa os limites de uma simples disputa em campo.
– É um jogo que tem um peso muito grande na história da Chapecoense – declarou o treinador.
Mancini está ciente também da importância desta conquista para o futebol de Santa Catarina. Reconhece que o Atlético Nacional é um time perigoso, mas está confiante após as cinco vitórias consecutivas da Chapecoense no returno do Estadual.
A Rádio Rural vai transmitir, nesta terça-feira, a segunda etapa da partida. O jogo começa às 19h15 e a transmissão da emissora inicia às 20 horas, em função da Voz do Brasil.
Além do jogo, mais homenagens
Para tentar fazer algo parecido com o que os colombianos fizeram pela Chapecoense, foi chamado para organizar o espetáculo o diretor artístico Edson Erdmann, que já fez eventos como a reinauguração do Beira Rio, o acendimento da pira dos Jogos Olímpicos e o Natal Luz de Gramado. Ele criou o slogan #PraSempreChape, pois o objetivo é agradecer e eternizar esse momento. Haverá shows na Praça Coronel Bertaso, caminhada, abraço ao estádio e show de gratidão. A música escolhida foi Dia Especial, de Duca Leindecker, que estará na Arena Condá para apresentação ao vivo.
Na arquibancada, 20 mil pessoas devem fazer uma coreografia que foi compartilhada nas redes sociais. Sobreviventes da tragédia, como o jornalista Rafael Henzel e os jogadores Jackson Follmann, Neto e Alan Ruschel, darão seus depoimentos.
– Vou unir três times: Chapecoense, Atlético Nacional e o time que está no céu – afirmou Edrmann.
Os jogadores dos dois times devem entrar de forma intercalada e com a música Os Guerreiros, criada especialmente para o momento.
Depoimentos de personalidades de todo o mundo, entre eles Juninho Pernambucano, Denílson e Zico, vão passar num telão de 300 metros quadrados.
Para o gerente da Chapecoense, Carlinhos Almeida, um dos funcionários mais antigos do clube, esta terça-feira terá dois momentos.
– Tem o momento da gratidão, pelo que o povo colombiano fez, o apoio na hora do acidente e pelo Atlético ter nos dado o título da Sul-Americana. Depois tem o jogo, em que se deixa isso de lado e entra a disputa por um título importante, que vale um troféu continental – afirmou.
Como a música tema do evento indica, não resta dúvida alguma de que hoje será um dia especial para o futebol de Santa Catarina.
Escalação
No último treino antes da partida contra o Atlético Nacional, realizado na tarde desta segunda-feira, no Centro de Treinamento da Água Amarela, o técnico Vagner Mancini trabalhou o posicionamento do time, treinou cobranças de faltas e pênaltis e assumiu que tem algumas dúvidas na escalação da equipe.
— São várias, posso mudar até a forma de jogar, mas devo manter pelo menos 80% do time pois foi assim que a Chapecoense cresceu no Campeonato Catarinense — afirmou o treinador.
Uma das possibilidades é a saída de Dodô e a entrada de mais um volante, Moisés, que chegou a ser titular antes de se lesionar e ficar cerca de duas semanas afastado. No entanto, o treinador disse que precisa avaliar o risco de utilizar um jogador que vem de lesão numa partida em que precisa de muita intensidade. Outra possibilidade seria utilizar o lateral João Pedro no meio, como já testou nos dois últimos jogos, com Apodi na lateral-direita.
Mancini chegou a falar que pretende fazer uma surpresa para gerar desconforto no adversário. Outra dúvida é no ataque: se joga Wellington Paulista ou Túlio de Melo. O técnico vem utilizando os dois na maioria das partidas.
Mas, independentemente de quem entre em campo, o treinador quer o time focado no jogo e não nas homenagens. Eles até devem ficar no vestiário na hora do show de gratidão, que antecede a partida, para que a emoção no momento não interfira no desempenho.
— Temos as pessoas certas para fazer as homenagens e a nossa concentração tem que ser no jogo, pois quando a bola rolar quero jogador mordendo, pegando pois há a possibilidade de ganhar uma taça que pode marcar o ano na Chapecoense e a vida de cada um — destacou Mancini.