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​Concordiense que se imunizou na última semana fala sobre a pandemia nos EUA


Breno Rodrigues é fisioterapeuta e trabalha na linha de frente em Salt Lake City.

23/12/2020 às 06h42 | Atualizada em 24/12/2020 - 18h25
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O fisioterapeuta concordiense, Breno Teixeira Rodrigues, conversou com o jornalismo da Rural/96 neste final de semana sobre a pandemia da Covid-19 nos Estados Unidos. Há mais de uma década, morando na América do Norte, na cidade de Salt Lake City, no Estado de Utah, Breno ou Dr. Rodrigues como é conhecido, trabalha como fisioterapeuta, no âmbito hospitalar em UTI´s respiratórias e cardiotorácicas.

Na região onde ele mora, desde o início da pandemia, foram mais de 97 mil casos, com 502 mortes. Conforme o profissional, índice baixo de mortalidade com uma população mais jovem.

Formado em fisiologia do exercício pela Universidade de Brigham Young e doutorado em fisioterapia com ênfase em geriatria pela Universidade de Washington. “Desenvolvi minha carreira completamente aqui dentro dos Estados Unidos, mas iniciei a minha carreira acadêmica no Brasil, na antiga Escola Agrotécnica Federal de Concórdia, atual IFC, que me alavancou em todos os âmbitos da minha carreira”, comentou.

O assunto principal no contato com o concordiense, que recebeu a primeira dose da vacina contra o coronavírus na última semana, foi entender como é a situação deste imunizante que está gerando discussões aqui no Brasil e também saber como está a doença na cidade que ele reside com mais de 1 milhão de habitantes.

Breno Rodrigues comenta que a vacina é segura e que não teve nenhum efeito colateral.

“A vacina qual recebi ela foi desenvolvida pelo laboratório Pfeizer aqui nos Estados Unidos e recebeu aprovação preliminar para uso em pessoas de maior risco. No meu caso eu sou um profissional da Saúde, trabalho na linha de frente. e eles aprovaram isso para uso residencial até então mais de 20 mil candidatos antes da aprovação prévia da vacina se submeteram ao recebimento da mesma e ela teve eficiência e Seguridade demonstrada dentro desses candidatos todos, adultos acima de 16 anos e diversas etnias, de diversos diversos bolsões populacionais dentro dos Estados Unidos e outras partes do mundo também”

O profissional conta que, diferente do que ocorre com a maioria das vacinas, elas passam por um processo maior de testes. Mas devido a gravidade da doença, que está se disseminando em grande escala, na segunda onda, foi produzida e sendo aplicada em regime de urgência.

“Do ponto de vista epidemiológico geralmente vacinas são testadas há um período de longo prazo, em uma população grande. No entanto, devido a gravidade da pandemia, devido ao efeito globalmente na economia, na saúde, tanto física quanto psicológica da humanidade, mobilizou-se todos esses recursos por parte do governo americano. Foram investidos aqui, R$ 10 bilhões de dólares, ainda em março e maio deste ano para produzir envolvimento da vacina”.

Um dos debates das últimas semanas é a obrigatoriedade ou não de se imunizar. Mas também, nas rodas de discussões, outro assunto que se tornou até briga política é, se a vacina tem segurança ou não. Outros, discutem a comprovação de que a vacina produzida pelo Laboratório Chinês seria eficaz.

“Assim como outras vacinas recebidas, o candidato deve estar ciente de que não é uma promessa de cura não é uma garantia de cura e, que assim, existe a possibilidade de efeitos adversos, principalmente efeitos alérgicos. Antes do recebimento eu tive que ler seis páginas em que eles colocam a todos, os ingredientes em que são utilizados para que o candidato esteja com conhecimento de causa do que está sendo injetado em si. Então para mim o efeito não foi maior do que o da vacina da gripe, que eu tomo já todos os anos também como obrigatoriedade como parte da minha profissão. Teve ardor no local (músculo do braço) nas primeiras 12 horas e um pouco de vermelhidão, mas nada até então hoje. (Recebeu a vacina no dia 18 de dezembro). Não tive febre, não desenvolvi dores musculares, não desenvolvi calafrios ou nada assim, que fazem parte do conjunto de sintomas que podem ser desenvolvidos ao tomar a vacina. Então eu me sinto bem, me sinto completamente saudável e sem nenhum efeito colateral posterior”.

O concordiense cita que nos Estados Unidos as pessoas acabaram relaxando nos cuidados e deixando de lado as orientações do governo, fazendo com que os números aumentassem consideravelmente nas últimas semanas.

“Assim como outras partes do mundo, nas últimas oito semanas, nós atingimos aqui um pico naquilo que os especialistas em saúde pública chamam de segunda onda. Então aqui dentro dos Estados Unidos alguns eventos como o “Ação de Graças”, na última semana de outubro, em que as pessoas já cansadas, pelos longos meses mantendo distanciamento social, muitas famílias acabaram se reunindo em grupos maiores e quebrando algumas das regras e são o que eles chamam de “super-spreaders” os eventos em que a uma taxa de propagação maior do vírus. Então nós estamos enfrentando essa realidade no momento”.

Rodrigues explica que devido a isso, os níveis de pessoas internadas em hospitais subiram absurdamente, chegando a índices de 400% de aumento.

“Os nossos níveis de hospitalização subiram 400% nas últimas oito semanas ao ponto em que no momento em torno de 5% da população que tem o vírus, das pessoas que contraíram o vírus estão necessitando de algum tipo de hospitalização. Então as nossas UTI hoje aqui em Salt Lake City, estão em nível de 85% de utilização, que geralmente o nível que a gente tem média de utilização das UTI´s é de 45 a 50%, ou seja, se as estatísticas continuarem aumentando, nós estamos chegando muito próximo daquele ponto em que nós temos uma utilização máxima e potencialmente uma colapso do sistema de saúde local. Então por essa questão nós temos uma mandado de “lockdown” praticamente em indiferentes Condados. Os Condados com maior nível de propagação do vírus estão em “Lockdown”, alguns outros Condados com menos taxas de infecção eles têm regras um pouco mais abertas. Então são decisões que são feitas praticamente comunidade por comunidade”.

Breno Rodrigues comenta que a “jornada ainda será grande”, para traçar uma ideia de que, para se entender e estudar o vírus, o caminho ainda será longo. O Doutor em fisioterapia cita que tem trabalhado desde o início da pandemia e destaca o efeito devastador da doença.

“Trabalho aqui desde o primeiro paciente que foi diagnosticado como positivo, que foi ainda no final de Março, para nós aqui no estado de Utah. Tenho visto o efeito devastador que esta este vírus tem provocado na de forma mais variada né não apenas efeitos respiratórios em diferentes pacientes, onde os mais idosos têm tido desde deficiências respiratórias, que são as mais óbvias associadas ao vírus, como também deficiências físicas, psicológicas e mentais também. Tive, por exemplo, pacientes que tinham um certo nível de demência e a mesma foi exacerbada por causa do vírus e outros pacientes, uns por sintomas mais variados, sintomas vasculares, sintomas cardíacos, alguns pacientes que eu tive estão regressando, retornando, após vários meses de ter se recuperado do vírus, mas agora estamos vendo os efeitos crônicos do covid-19. As pessoas estão desenvolvendo efeitos crônicos, cardíacos principalmente, que estão sendo associados. Então cada dia nós estamos aprendendo mais. Eu acho que a jornada ainda será grande e que continuamos aprendendo a respeito dos efeitos deste vírus devastador”.

Por fim, Dr. Breno Rodrigues explica que leu por diversas vezes o estudo da vacina e, exalta o trabalho incansável da comunidade científica para encontrar a cura de uma doença tão rapidamente, o que nunca antes aconteceu em tão pouco tempo. Ele ressalta que a vacina sim, atingirá a seu objetivo e, acredita, que a humanidade “sairá melhor dessa pandemia”.

“Eu li extensivamente os estudos da vacina. Eu como cientista pus todo o meu pensamento técnico e crítico nesta tarefa. processo de desenvolvimento da mesma foi o mais avançado na história da humanidade até hoje. Apesar do tempo reduzido, a seriedade, qualidade e eficácia da mesma deixaram nenhuma sombra de dúvida em minha mente. A corrida cada dia dos laboratórios foi (e continua) sendo acirrada: é muito interesse e dinheiro envolvido. Nunca antes houve tamanha colaboração da comunidade científica e tantos milhões de dólares destinados a um único objetivo. No entanto, você sabe que sempre haverão um número de reações adversas à uma vacina quando aplicadas à uma população mundial. Saúde pública é complexa. Com certeza haverão casos reportados de alergias, choques anafilático, respostas fisiológicas, neurológicas e metabólicas que talvez só aprenderemos com distribuição ampla mundial. Sempre foi assim, com qualquer vacina. Os seres humanos são geneticamente variados. Porém vacinas bem desenvolvidas erradicam sim enfermidades que assolaram a humanidade no passado: rubéola, sarampo, paralisia infantil. A diferença foi que a tecnologia, o investimento e o conhecimento eram menores antes: em média 20 anos para sair uma vacina. Nós sairemos melhores desta pandemia como humanidade. Em um ano apenas desenvolvemos a cura do coronavírus. Eu estou confiante. O importante agora é separar o que é solidamente comprovado de fake news”, finaliza.

Nós próximos dias publicaremos mais uma matéria sobre o concordiense que faz questão de encorajar jovens de famílias humildes, para que não deixem de acreditar nos seus sonhos. Breno Rodrigues é concordiense, de família humilde e que há mais de uma década mora nos Estados Unidos onde é Doutor na sua área.







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