Em entrevista à Rádio Rural, o pároco Pe. Gilberto contou os detalhes da emocionante jornada que culminou com a chegada da relíquia ao município.
Nós tínhamos um desejo de construir uma pequena capela junto às salas de catequese da paróquia, para que as crianças pudessem iniciar suas aulas com uma oração. Resolvemos dedicar a capela a São Carlo Acutis, por ser um santo que se identifica bastante com a juventude. Ele morreu com somente 15 anos, então queríamos ter também uma relíquia dele, mesmo não sendo fácil de se conseguir, explicou o sacerdote.

O pedido foi feito oficialmente ao Santuário da Espoliação, em Assis, local onde repousa o corpo de São Carlo. A resposta veio em forma de bênção: o santuário autorizou o envio da relíquia.
Nós fomos então com uma comitiva da paróquia para Assis, para buscar a relíquia e trouxemos para Irani. Ela foi oficialmente entronizada na nossa igreja no dia 20 de setembro, pelo nosso bispo, Dom Mário, recordou Pe. Gilberto.
Desde então, a relíquia tem atraído devotos de diversas cidades catarinenses. Muitos relatam graças alcançadas por intercessão de São Carlo Acutis, especialmente ligadas à cura de doenças.
A relíquia tem sido muito procurada por fiéis de toda Santa Catarina. Já temos recebido muitos testemunhos de bênçãos e curas. É algo que toca profundamente os corações. A relíquia aproxima os devotos do santo e no nosso caso, trata-se de uma relíquia de primeiro grau, um fio de cabelo de Carlo, destacou o padre.
A relíquia está exposta na Igreja Matriz de Irani, e pode ser visitada diariamente, das 8h30 às 17h. Os fiéis também podem conhecer a Capela de São Carlo Acutis, onde a juventude e os catequizandos são convidados a rezar e buscar inspiração no exemplo do santo que evangelizou através da internet.

O que são as relíquias e seus graus?
Na Tradição da Igreja Católica, relíquias são objetos ou partes do corpo ligados aos santos e beatos, preservados com veneração por representarem a presença espiritual desses amigos de Deus. Elas são classificadas em três graus:
Primeiro grau: partes do corpo do santo (ossos, sangue, cabelo, etc.);
Segundo grau: objetos de uso pessoal do santo (roupas, terços, instrumentos, etc.);
Terceiro grau: objetos que tocaram o corpo do santo.
A veneração das relíquias não é um culto à matéria, mas uma forma de honrar a ação de Deus na vida dos santos. Desde os primeiros séculos, os cristãos guardavam com carinho os restos mortais dos mártires, reconhecendo neles testemunhos vivos do Evangelho.
No Segundo Livro dos Reis (2Rs 13,20-21) acontece um episódio impressionante, que mostra como Deus pode realizar milagres até mesmo por meio dos restos mortais de um profeta, antecipando, de certa forma, a compreensão católica sobre o poder das relíquias.
Eliseu morreu e foi sepultado. Ora, tropas de moabitas costumavam invadir o país a cada primavera. Aconteceu que, enquanto alguns homens estavam sepultando um morto, viram de repente uma dessas tropas; jogaram então o corpo no túmulo de Eliseu e fugiram. Mas, assim que o corpo tocou os ossos de Eliseu, o homem voltou à vida e se pôs de pé. (2 Reis 13,20-21)
Essa passagem é uma das mais belas prefigurações bíblicas da veneração das relíquias: o poder não está nos ossos em si, mas na presença de Deus que age através de seus servos fiéis, mesmo após a morte. É um exemplo concreto de que a graça divina pode se manifestar por meio daquilo que foi santificado pela vida de comunhão com Deus.
No Livro dos Atos dos Apóstolos (At 19,11-12), acontece um dos mais fortes testemunhos neotestamentários sobre o poder de Deus agindo por meio de objetos ligados aos santos aquilo que, na tradição da Igreja, compreendemos como relíquias de terceiro grau (ou seja, objetos que estiveram em contato direto com um santo).
Deus fazia milagres extraordinários pelas mãos de Paulo, a tal ponto que bastava aplicarem sobre os enfermos lenços ou panos que tinham tocado o seu corpo, e as doenças os deixavam, e os espíritos maus se retiravam. (Atos 19,11-12)
Essa passagem é teologicamente riquíssima. Ela mostra que o milagre é sempre obra de Deus, não do objeto nem do homem santo. Os objetos tocados por São Paulo tornaram-se instrumentos da graça divina por causa da presença do Espírito Santo que agia nele. Assim, a Igreja entende que a veneração das relíquias tem fundamento tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.
A Igreja ensina claramente: quem realiza o milagre é sempre Deus. Os santos apenas intercedem, como irmãos que rogam por nós diante do trono divino. É Deus quem concede a graça, movido pela fé e pela confiança de seus filhos.
Um jovem para os jovens
São Carlo Acutis, canonizado neste ano de 2025 pelo papa Leão XIV, tornou-se uma das figuras mais queridas da nova geração católica. Apaixonado pela Eucaristia, criou ainda em vida um site catalogando milagres eucarísticos do mundo inteiro. Usava a internet como um verdadeiro púlpito digital, evangelizando com alegria e simplicidade.
Seu lema A Eucaristia é a minha estrada para o Céu vive agora nas paredes da capela de Irani, onde crianças, adolescentes e adultos encontram inspiração para viver a santidade no cotidiano.
